Frevo e a Capoeira: Origens

Capoeira & Frevo
Alguma vez já passou por sua cabeça que o frevo e a capoeira têm alguma coisa em comum?
O frevo nasceu entre o final do século XIX e início do século XX, em Recife e Olinda (Pernambuco), época em que a capoeira foi proibida na região, vista como uma prática marginal, como mostra o recorte de uma publicação da época do Diário de Pernambuco (edição de 15 de dezembro de 1864), em que se transcreve um ofício do coronel comandante das armas:
“Pelo reprovado costume adotado pelos escravos nesta cidade, de acompanharem as músicas militares, dando a uma ou a outra vivas e morras, apareceram desagradáveis conflitos e isto há muito. Ontem, o partidista de uma dessas músicas – Melquíades – preto, escravo, deu, no meio dos gritos de um e outro lado, uma facada no pardo, também escravo Elias, dizendo-se ser o ofensor partidista de uma das músicas e ofensor de outra.” 
De origem afrobrasileira, como não poderia deixar de ser, essa riquíssima manifestação surgiu do encontro da música com a dança nas comemorações carnavalescas. Era antes um ritmo musical, fusão entre maxixes, dobrados e as clássicas marchinhas. Era quente, botava o povo para ferver, “frever”:

“Efervecência, agitação, confusão, rebuliço; apertão nas reuniões de grande massa popular no seu vai-e-vem em direções opostas como pelo Carnaval” (recorte do livro “Vocabulário Pernambucano”, de Pereira da Costa) 

Vocabulário Pernambucano

Pedro Abib, em seu texto “Festa, Capoeira, Frevo e Samba” diz que: “O frevo, que ao que tudo indica, surgiu a partir dos blocos carnavalescos do Recife e Olinda, no início do século XX, onde a rivalidade entre essas agremiações, fazia com que houvesse o enfrentamento entre elas, quando os caminhos se cruzavam durante a festa. Por isso, a necessidade de haver valentões dispostos a esses enfrentamentos – geralmente capoeiristas, que iam à frente desses cordões e, ao som das orquestras de metais e percussão, evoluíam com seus passos ágeis e coreografias bem desenhadas, dando origem à essa dança tão popular no carnaval de Recife e Olinda.”

Durante os desfiles de carnaval, era costume que capoeiristas abrissem o caminho para que a bandinha instrumental passasse entre os foliões. Daí que vários golpes de capoeira foram incorporados na dança, que é uma das mais complexas que tenho notícias no Brasil, e possui mais de cem passos, sendo necessário bastante condicionamento físico e habilidade para ser executada. Os mais conhecidos destes Rabo de Arraia, Locomotiva, Dobradiça, Fogareiro, Capoeira, Tesoura, Mola, Ferrolho e Parafuso.
Outro elemento estético do atual frevo que teve sua origem na capoeiragem, foram as sombrinhas que outrora eram velhos guarda-chuvas rasgados, usados pelos capoeiristas como arma de ataque e defesa, já que a prática da capoeira estava proibida. Com o passar do tempo, os guarda.chuvas foram se transformando em pequenas sombrinhas coloridas.
Junior Viegas, professor no Paço do Frevo e da Escola Municipal de Frevo Maestro Fernando Borges, conta em entrevista realizada pelo “Diário de Pernambuco” que “o início do frevo se confunde com o uso das sombrinhas, antes usadas em tamanho natural durante as evoluções. A sombrinha começou a ser usada pelos ‘capoeiras’, homens que acompanhavam as saídas das bandas militares no carnaval do Recife no fim do século 19. Esses objetos eram usados como arma de ataque e defesa e o frevo, como dança, surgiu a partir desses homens pobres e taxados de violentos. Os foliões começaram a imitar os movimentos dos capoeiras, que abriam caminho para as bandas e enganavam a polícia com seus passos. Dessa forma, surgiram os princípios do frevo”.
Hoje em dia o frevo é considerado Patrimônio Imaterial da Humanidade, pela Unesco, tornou-se símbolo da folia pernambucana. 
Mas é muito importante olharmos para suas origens para perceber que nem sempre foi uma dança de pessoas com roupas brilhantes e sombrinhas coloridas. Sua origem foi liminar. Foi resistência e necessidade de extravasar uma vida de exclusão e marginalidade do povo negro, do povo da capoeira.
Capoeira é dança, é luta, é arma de empoderamento e resistência. Sua história se desenhou pelo Brasil afora, contribuindo para transformação e a construção da identidade de cada região do país.
Ainda hoje existem rodas de capoeira e frevo em Pernambuco, um dos estados mais importantes para a capoeiragem brasileira.
O que tocar a gente freva!




FONTES:

http://portalcapoeira.com/capoeira/cronicas-da-capoeiragem/festa-capoeira-frevo-e-samba

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2014/11/26/internas_viver,545255/capoeira-se-une-ao-frevo-e-agora-tambem-e-patrimonio-cultural-imaterial-da-humanidade.shtml

http://centroculturaldecapoeiracorpolivre.blogspot.com.br/2014/02/a-relacao-do-frevo-com-capoeira_28.html

http://canalcurta.tv.br/pt/filme/?name=frevo_e_capoeira

http://www.infoescola.com/danca/frevo/

http://portalcapoeira.com/capoeira/publicacoes-e-artigos/capoeira-a-frevo-savate-e-mestre-artur-emidio

http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&id=442