claveconsciência e a diáspora afrikana

Benguela: Quimbundos, tocadores de Marimba

mo maiê, ilha de itaparica, bahia, 2017

a diáspora do transatlântiko negro criou invisíveis visíveis cordões umbilicais entre a velha áfrika e vários territórios ao redor do mundo, pra onde antepassadxs foram levadxs, depois do grande sequestro. 

o que hoje é o continente afrikano quem sabe talvez até que poderia não ter sido áfrika em sua exuberância, magnificência, em toda sua potência, se tivéssemos por base tudo que foi armado do outro lado… mas a providência divina é tão favorável, que, mesmo que deste continente fossem tirados bons frutos e sementes, devido à represa do tempo conhecida como “NDONGO” (como era chamado em angola o movimento do tráfico, fornecimento de seres humanos capturados tanto nas américas quanto na ásia), sua glória repousa eternamente sobre o solo fértil da terra mãe.

a áfrika foi arrasada depois da chegada dos europeus invasores, que, com sua busca desenfreada por movimentar a roda do comércio, das guerras e da dita religião, provocaram um câncer nas estruturas sociais de povos e civilizações com riquíssima culturas, filosofias, economias, organizações comunitárias, cosmopercepções.

“angola tornou-se o combustível, estando sua vida econômica e comercial mobilizada e baseada na escravidão. tal situação gerou um desequilíbrio econômico naquele país, uma vez que, dele, apenas tirou-se pessoas e produtos, sem que houvesse investimento efetivo no seu desenvolvimento”. (Espaços de Hibridações e de diálogos culturais: o caso bantú . brígida carla malandrino)

Nas embarcações negreiras, o corpo escravizado remava ou se contorcia de banzo. 

Separado à força de sua família e de sua comunidade, Muntu (a pessoa humana) se desfalece, ao ver suas raízes vitais cortadas, decepadas, já que em sua terra vivem fortemente o sentido de comunidade. Só existo porque Tu Existe. Ubuntu. Eu só existe porque você me percebe, me vê, me sente. Tu me percebes, e eu existo.”

“A captura e a separação da família alargada e nuclear desestruturam visceralmente a pessoa de tradição bantú, que perde, nesse momento, a possibilidade de dar continuidade à participação vital, uma vez que foram rompidos os laços de solidariedade vertical e horizontal. Rompendo esses laços, a pessoa tem desfeita a ligação com a participação vital, havendo também a quebra da corrente vital. O ser humano tem, portanto, a sua força vital diminuída. Esgotam-se os motivos pelos quais se vive, uma vez que, dentro da cultura bantú, só se existe pela e na comunidade”. (Brigida Carla Malandrino)

Aqueles SERES arrancados de suas terras, encontraram na cumplicidade do outro e nos movimentos da Música-Dança, uma chispa de força vital (NGOLO), que lhes motivassem a permanecerem vivos.

A travessia forçada pelo oceano Atlântiko (a grande Kalunga) gerou o nascimento de uma grande alkimia – fusão musical, espiritual, política, corporal entre distintas raças e culturas, mesclando para sempre os novos povos, nascidos da hibridação do encontro de sementes vindas de diferentes cantos. 

As sementes filosóficas/artísticas/políticas trazidas dentro de cada corpo, contendo dentro de si códigos genéticos e simbólicos de sua terra matriz, adaptaram-se aos entornos naturais do “Novo Mundo”. Por isso é possível encontrar traços culturais comuns em diferentes países e sociedades americanas.

Christopher Washburne (da Colombia University) cita em um artigo publicado em 1995 na revista “Kalinda! Black Music Research” que: 

“em muitas discussões musicais, estilos de músicas encontradas nas Américas e no Caribe, algumas vezes se referem como procedentes da África. A Salsa não é uma exceção e a seguinte discussão explora o que particularmente é africano nesta música: A Clave!!!, um conceito rítmico encontrado em uma variedade de estilos da América Latina. Similaridades entre o som e a função dos padrões dos instrumentos de ferro africanos (como o gobel ou o agogô) provêm evidências sobre uma teoria das origens da clave e uma conexão evoluída entre a música africana e a salsa”.

Assim como esta conexão entre a música afrikana e a salsa, também existe entre a música afrikana e o samba brasileiro, a cumbia, a música afro-peruana, o candombe uruguayo, etc.

Segundo Letieres Leite, nosso mestre, estes padrões rítmicos são chamados de DNA do ritmo e sua influência vai ser fundamental para direcionar minhas pesquisas sobre a musicalidade/corporeidade afrikana e afro-latina.

Assim, Letieres vem nos falar da “clave-consciência”: 

“Para mim, toda música de matriz afrikana segue um sistema rigoroso de claves. Clave é a menor porção rítmica em que a música gira no entorno. (…) Então eu pensei: Por que não trabalhar a música instrumental a partir dessas ideias? Eu aprendo o ritmo, desconstruo ele, para construir de novo para outros instrumentos poderem tocar”.

Em entrevista para o Programa Passagem de Som, do Sesc São Paulo, Letieres diz que:


“Eu notei que a música instrumental brasileira se focava em dois grandes pólos: o samba e seus derivados e o baião e seus ritmos vizinhos. Eu falo do DNA do Samba, que é a matéria que eu gosto de estudar, que se chama “Sistema de Claves”. A grande abstração da Rumpilezz é promover a transmissão dos desenhos com fidelidade para os instrumentos de sopro e para os instrumentos de base. Eu chamo esse processo de “Universo Percussivo Baiano”. (…) Você pode tocar o samba jazz, o chorinho, pode tocar a bossa nova, bem jazzificada. Eu pensei que eu poderia explorar mais o que eu já conhecia, que era  a música afro-baiana. Aí eu pensei: por que não a música instrumental a partir destas ideias? Em 1984 comecei a colocar essa ideia em prática. A Rumpilezz, na realidade, não foi criada para entretenimento nem para ser uma opção de trabalho. Ela foi criada para provar uma coisa que eu venho defendendo há muito tempo, que é o nível de organização da música percussiva e o nível de estrutura e complexidade que ela tem.”


Brasil foi um grande caldeirão onde se misturaram símbolos de ambos lados da costa do Atlântico (Kalunga).

A concepção do samba se deu ao longo da travessia através da Kalunga. 

Momento em que houve entre os seres/corpos/cidadãos afrikanos a necessidade de sobreviver, de conectar-se a algo que transcendesse a realidade da nova condição imposta, que transcendesse a realidade material da condição de escravizado, algo que conectasse os corpos, os seres “objetificados” de volta à sua condição de ser vivente, de ser mágico, de ser espiritual, filosófico, social.

Assim, o samba nasceu em forma de Música/Dança/Medicina para os filhos da América Afro-ameríndia.

O pulso grave do surdo marca o compasso do corpo do afrikano que tinha que remar para mover os navios, ao compasso da batida do seu coração, cantando canções de sua terra, escutando através das vozes de irmãos e irmãs de outros povos do continente, palavras ditas em outras línguas, que agora se tornavam línguas irmãs.

Assim, depois de ser concebido, o samba sai do mundo espiritual para habitar o mundo físico, quando as embarcações chegam ao Brasil, com os sobreviventes da travessia.

O samba deixa de existir como uma ideia ou uma semente de ritmos e melodias e passa a habitar o mundo da matéria, no ciclo do tempo conhecido como “Kala”, entre os Bakongo.

Aqui a musicalidade dentro de cada afrikano se encontra com a musicalidade do novo mundo. 

Os instrumentos musicais originais são adaptados e viram novos instrumentos, mas em muitos casos, guardam sua estrutura e sua essência. Na América os instrumentos originados da Áfrika foram recriados a partir de memórias, a partir de possibilidades de recursos e matéria prima do Novo Mundo.

Em Kala nasce o samba e vai se adaptando aos novos ambientes.

Como o corpo que dança, o samba vai se adequando ao sotaque corporal de seu próprio vilarejo aos diferentes sotaques de seus parceiros de brincadeira.

A cultura afro-brasileira, em sua essência originária, se harmoniza com as práticas indígenas das Américas. 

Na Música/Dança, por exemplo, é muito comum para ambos os povos danças e cantos circulares e polifônicos, cantos em forma de pergunta/resposta em coros de vozes, uso de palmas e, sobretudo, a consciência da conexão do corpo com os ancestrais e com a terra – a grande matriz geradora da essência da vida.

Tanto para os afrikanos quanto para os indígenas, batucar e dançar é medicina espiritual.

O Samba tem seus ritmos marcados por “Claves” afrikanas e trás em seu interior memórias sonoras e temporais de gerações de afrikanos que atravessaram a Kalunga.

O Samba tem seu ritmo essencial marcado pelo forte pulso nos Navios Negreiros, com seus remos, seus ombros e seus corpos se movendo pelo balanço do mar.
O ritmo marcante e ricamente polifônico da música brasileira é uma de suas principais características. 

Assim, como dito acima, Letieres Leite começou a pensar e a nos fazer pensar sobre a “Clave” da música (seu DNA rítmico), bem marcada em diferentes estilos musicais afro-descendentes. 

Letieres chamou de “Clave-consciência” à busca do músico pela consciência de padrões rítmicos , que marcam diferenças e semelhanças entre estilos musicais.

A “Clave-Consciência” busca que o artista não apenas reconheça tais padrões, mas também incorpore a consciência na execução do instrumento musical durante sua performance.

No Brasil, o samba são muitos sambas. Cada região brasileira vai parir um tipo de samba, com suas especificidades e características. Mas é indiscutível que a cada novo nascimento, o samba trás o poder da resistência e está, geralmente, relacionado ao trabalho. 

O samba nasce nas roças da Bahia – o samba de roda, que tem suas raízes nos cantos, nos lamentos e toques de trabalho de regiões do interior do estado, nas plantações de cana de açúcar e tabaco, ao longo do Recôncavo baiano, entre vilarejos e kilombos, na beira do mar, no trato das baleias, nas festas aos caboclos… 

No Rio de Janeiro, o samba tem suas raízes germinadas de ritmos/manifestações culturais e espirituais como o Jongo, que, por sua vez também deu origem ao ritmo conhecido como o “funk carioca”. 

Posteriormente, o samba se reinventa através das influências de um grupo de baianos que se encontram na casa da Dona Ciata e outras “tias baianas”, que tiveram o papel fundamental de transmitir a cultura popular trazida da Bahia, seja através de práticas de cultos e ritos da tradição afrikanas, seja através do sabor dos quitutes e do teor libertador das festas, reunindo ao seu redor uma vibrante comunidade que, muitas vezes, chegavam a ficar por três dias em festas.

No Nordeste, o samba é o Samba de Côco, que também tem origem relacionada com o trabalho forçado na quebra do Côco, ou no ato de amassar o barro para construir a casa. 

Pessoalmente, encontro uma grande força e influência niger congo no samba matricial.

Dessa maneira, busco encontrar em meu próprio corpo as conexões desativadas entre possíveis caminhos pelos quais atravessaram meus ancestrais em suas próprias travessias pela linha de Kalunga. 

Busco vias de desubstrução, de descolonização deste corpo. Busco maneiras de destroçar as pedras impostas pelos agente dominantes durante esses processos civilizatórios, baseados na exploração e imposição de crenças religiosas, sociais e políticas.

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mo maiê, ilha de itaparica, bahia, 2017

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– “clave: The African Roots of Salsa.” Kalinda!: Newsletter for the Center for black music Research, Fall (1995): 7-11. Reprinted in Clave (1) 2, (1998): 2-3.
– espaços de Hibridações e de Diálogos Culturais: O Caso Bantú. brígida carla malandrino 

estórias do agbe ou xekere

Abê (ou Agbê ou Xequerê) é um instrumento que se relaciona com o corpo inteiro. Enquanto a Alfaia traz o peso da marcação ao maracatu, o xequerê dá leveza e molejo ao ritmo. Um instrumento de percussão à maneira de um chocalho, o xequerê é formado por uma cabaça revestida por uma malha de contas. 

xekere djalo, 2013, morro da sereia


Toca-se o agbê segurando na cabaça e balançando-a de um lado a outro fazendo com que a malha de contas repercuta na sua parte externa.

Estoricamente, o agbê nunca fez parte de um conjunto de maracatu. 

o Agbê é Originário de Áfrika (Entre Mali, Nigéria, Benin, Gana …), chegou ao Brasil pelas habilidosas mãos dos antepassados escravizados,  firmando-se como instrumento imprescindível dos grupos de afoxé de Salvador, Bahia e Recife, Pernambuco – herança de Áfrika. 

É no final da década de 80 que o Afoxé começa a se tornar comum no Carnaval de Recife. São criados então vários grupos que hoje mantém maravilhosamente bem essa tradição. Anos mais tarde (mais precisamente perto do carnaval de 1997) dois tradicionais maracatus de Recife colocam o agbê entre seus instrumentos. A partir de então, outros copiam a iniciativa e também inserem o Agbê em suas orquestras. 

Torai Mapadza Muchirima, canção Shona

O hosho é um instrumento musical do Zimbabwe, que é formado por um par de cabaças maranka (mapudzi), com sementes. Normalmente contém sementes de hora dentro. O hosho costuma acompanhar a música shona, especialmente a música de mbira. Fazem a marcação e é um som essecial nos rituais e musicalidades com a mbira ou também a marimba. A partir de uma perspectiva ocidental, o hosho é visto como uinstrumentos que acompanham a mbira, quando em realidade, as pessoas que tocam a mbira lhe consideram um instrumento principal.

Um dos principais músicos que tocam hosho no Zimbabwe é Tendai Kazuru, da banda Mbira dzeNharira, oriunda de Norton.

Nyamweda Village, Mhondoro revisited! Song called “Torai Mapadza Muchirima” Left to right: Oldman Sekuru Mukanya (Mbira); Caution Shonhai Sinyoro(Mbira); Tendai Kazuru (HoshoMaster); Tendai B. Kadyamadare (HoshoSupport) Videoman: Absolom Kadyamadare #Zimbabwe #BeforeCovid19

rapper wicked salam lança novo clip ‘teudjou’

wicked salam . senegal

está no ar o belíssimo videoclipe do rapper senegalês Wicked Salam, que se desponta como uma das personalidades do rap contemporâneo no Senegal

Les Kongos de Guadeloupe

L’abolition définitive de l’esclavage en 1848 pousse les colons à se tourner vers une nouvelle main-d’œuvre. D’abord européenne puis cap-verdienne et indienne, cette main-d’œuvre va à nouveau concerner l’Afrique et même se concentrer sur le Congo entre 1858 et 1861. Des Kongos qui vont pour la plupart se faire discrets dans un pays où la société créole déjà bien constituée, va les rejeter. Ils vont alors incarner le nom de leur pays d’origine en cachant leur véritable identité. Mais aujourd’hui encore, leurs patronymes rappellent qui ils sont vraiment.

kongo

1848 s’en va et laisse des colonies françaises bouleversées par ce virage qui n’est pas seulement politique ou économique et trouve ses arpents dans toutes les nervures de la société coloniale. Certes, les désormais anciens esclaves ont encore du mal à organiser leur vie économique et sociale mais s’il y a une chose qui est bien ancrée en eux c’est qu’ils ne veulent plus travailler gratuitement pour ceux qui les avaient réduits à la servitude. Les plus anciens n’ont pas oublié 1802 et le rétablissement de l’esclavage.

Les planteurs non plus ne veulent pas de cette main-d’œuvre qui désormais leur coûtera un salaire. Ils veulent d’ailleurs lui prouver qu’ils peuvent se passer d’elle. Pourtant cette abolition de l’esclavage leur a rapporté gros puisqu’ils ont été indemnisés par l’Etat pour chaque esclave affranchi. En Guadeloupe, ils reçoivent jusqu’à 6 millions de Francs pour les 248 000 esclaves libérés. Sauf qu’ils sont déterminés à trouver une main-d’œuvre à bon marché, qui aura signé un contrat préalable et avec laquelle ils n’auraient rien à négocier.

Le choix des Kongos

Les nouveaux travailleurs qui arriveront sur les platations seront sous contrat. Ils réussissent à recrtuter 450 personnes dans le sud-ouest de la France. Mais elles ne remplacent pas avantageusement les anciens esclaves. Les recruteurs vont ensuite à Madère et engagent 300 personnes. Peu concluant par rapport à l’attente des planteurs. Alors, comme ils en ont les moyens, ils vont chercher une nouvelle main d’oeuvre en Inde, et, par le biais de la Régie de Marseille, intermédiaire des planteurs en la matière, ils obtiennent la promesse de pouvoir faire venir 10 000 Africains durant près de 6 années.

Au début, les côtes ouest africaines sont les plus simples à drainer. Mais au Sénégal tout d’abord personne n’accepte le contrat proposé. Au Cap Vert ensuite, on recrute 70 personnes, ce qui est peu par rapport à la demande des planteurs.

Très vite, c’est sur le Congo que se porte leur dévolu . On cherche même alors parmi les peuples du Congo des personnes qui « ne soient pas trop difficiles à gérer ».

Jean-Claude Blanche Historiador

Le contrat prévoit effectivement qu’un salaire leur soit versé mais il est vraiment basique. Leurs conditions de travail et de vie sont d’ailleurs précaires. Une main-d’œuvre à bon marché et peu rebelle. De fait, entre 1858 et 1861, plus de 6000 Kongos arrivent en Guadeloupe. 

Le rejet de la société créole

Mais, déportés en Guadeloupe, les Kongos sont confrontés à plusieurs réalités qui les relèguent au ban de la société créole. Outre le régime draconien que leur imposent les propriétaires terriens, ils sont surtout rejetés et même dénigrés par la population noire composée par les anciens esclaves désormais créolisés. Si certains après l’abolition ont pu se mettre à leur compte et commencent à organiser une nouvelle économie locale tandis que d’autres font encore partie des personnels des plantations, beaucoup survivent comme ils peuvent faute de véritables sources de revenus.

Pour les uns et pour les autres, ces nouveaux engagés qui ne parlent pas leur langue sont la cause de leurs nouveaux malheurs. Et puis, les planteurs exacerbent la rivalité entre les nouveaux arrivants et les anciens esclaves. Cela, les travailleurs Indiens, comme les Kongos, en font aussi les frais.

D’ailleurs, la créolisation de cette société qui s’organise petit à petit en se donnant des codes et des concepts savamment entretenus par les nouvelles légendes populaires font que ces anciens esclaves se sentent différents des nouveaux arrivants. Déjà profondément mélangés et sans repères originels, ils ne se reconnaissent pas dans ces Kongos dont ils ne comprennent pas la langue. Ils les jugent même sur leur peau. Trop noirs par rapport à eux. D’ailleurs, certaines expressions stigmatisent les Kongos : « Kon Kongo ki vrè kalson ta … » Et cela entrera dans certains pans de la culture créole puisqu’un jour, le carnaval aura sa figure de proue pour effrayer les enfants : un « mas a kongo » recouvert de goudron pour effrayer les enfants. Des vexations qui, au vingtième siècle encore, continuaient de se dire, forçant les originaires du Congo et leurs descendants à faire profil bas en s’intégrant au mieux à ce nouveau monde pour eux. 

Se fondre pour survivre

De fait, pour les travailleurs Kongos, la meilleure manière de supporter ces vexations et de ne pas les provoquer, c’est de ne pas se faire remarquer. Certains espèrent qu’à la fin du contrat ils retourneront au Congo. Mais, engagés pour dix ans avec très rarement la possibilité de repartir ensuite, il faut déjà survivre au contrat qui les a conduits jusqu’en Guadeloupe. Survivre. Le mot n’est pas trop fort. Beaucoup perdront la vie avant la fin de ce contrat et ne reverront pas leur terre d’origine.

Pour la plupart, ils apprennent à vivre comme les anciens esclaves, ils choisissent de parler le créole et, presque tous abandonnent le kikongo et le vlili qu’ils parlaient en arrivant en Guadeloupe. Ils viennent d’un pays dont le nom signifie « caché », peut-être une propriété naturelle de ses habitants.

Répartis dans toutes les plantations de l’Archipel guadeloupéen, ils sont par la force des choses dispersés et ne cherchent même pas à se constituer en force. Mais on les reconnaît, à leurs noms.

FONTE: https://la1ere.francetvinfo.fr/guadeloupe/les-kongos-de-guadeloupe-reveler-ce-qui-est-reste-cache-1439396.html

lukasa, o tabuleiro da memória

Na Áfrika bantu exite um povo chamado Luba, que desenvolveu um valioso benguê – objeto significativo – chamado Lukasa, que vem sendo zelado de geração para geração, pelos iniciados e iniciadas da Sociedade Mbudye – que usam o tabuleiro lukasa para contar estórias, mediar situações conflituosas na comunidade, bem como realizar curas e prever o futuro, em contextos de rituais espirituais e políticos.

Os membros e membras da Irmandade Mbudye são consideradas “pessoas da memória”, pessoas que devem passar por diversas iniciações e por um extenso treinamento espiritual, que inclui a iniciação na ‘leitura’ do Lukasa.

Cada tabuleiro é diferente, mas pequena o suficiente para ser segurada com a mão esquerda. A Lukasa, que se parece com um quadro (verdadeira obra de arte) é “lida” tocando-se em sua superfície com o dedo indicador direito, como se lê a escrita em braile. As qualidades táteis são aparentes.

A lukasa retratada abaixo é um dos exemplos mais antigos que se tem conhecimento, com desenhos geométricos esculpidos nas costas e laterais, desenhos estes adornados por complexos aglomerados de contas de vários tamanhos, cujas cores foram desaparecendo com o tempo. A prancha é mais estreita no centro, facilitando o manuseio

Lukasa, o tabuleiro da memória/origem: luba/república democrática do kongo/áfrika/período séc. XX/

Conta-se que a irmandade mbudye foi criada em 1700, como um conselho encarregado de preservar e interpretar tanto os sistemas políticos do estado de Luba como a sua estória.

Lukasa, ou quadros de memória, são dispositivos mnemónicos que permitem aos membros da elite desta comunidade recordar informações relativas à genealogia, à cerimónia da corte, aos heróis culturais, às migrações de clãs e à localização das coisas dentro do complexo ou território real e atual. Um lukasanos também podem mapear “capitais espirituais”, palácios de governantes falecidos abandonados por novos reis para se tornarem receptáculos da memória dos antigos reis. Por serem detentores de conhecimentos essenciais para sustentar os rituais e a autoridade real, os membros da Irmandade Mbudye desempenham um papel importante no equilíbrio de poder. A estreita associação do lukasa com o governo é atestada pela parte de trás do tabuleiro, que é esculpido para se assemelhar a uma tartaruga, um símbolo Luba da realeza.

Lukasa, tábua da memória

Lukasa, o quadro de memória pode ser usado para validar o poder de um rei, ou para lembrar ao público como o rei chegou ao poder, ou para falar sobre a sua ascendência. Pode ser usado de muitas maneiras diferentes, é um portal e uma complexa biblioteca de conhecimentos e informações sobre o passado Luba.

Um objeto como o lukasa é uma fusão do visual com o verbal, porque ao olhar para o objeto e tocá-lo, estimula tradições orais que são então recitadas nessas narrativas muito prolongadas que podem lembrar a oratura clássica.
Os oradores clássicos também usaram dispositivos espaciais para lembrar seus discursos. Na verdade, eles se imaginariam movendo-se por um prédio, onde cada cômodo os lembraria de uma parte inteira do passado. Os historiadores da corte de Luba estão fazendo a mesma coisa. Usando este quadro com suas dimensões espaciais e seguindo os contornos das contas – seu código de cores e suas configurações – ele poderia lembrar detalhes de uma história de duzentos anos que seria quase impossível para qualquer outra pessoa fazer espontaneamente a partir do topo. da cabeça deles. Se você visse uma linha de contas na superfície do tabuleiro, isso indicava uma estrada ou uma viagem, talvez algum tipo de viagem ou jornada. Se você visse uma conta cercada por um círculo de contas, geralmente era a designação de uma chefia ou reino. O quadro de memória lukasa permitiu que um historiador da corte ou um rei fosse capaz de contar uma narrativa completa de como a realeza chegou a um determinado local e como os médiuns espíritas preservaram o espírito do poder do rei falecido e como eles prosseguiriam no futuro com todos desta linhagem e ancestralidade por trás deles.” MARY NOOTER ROBERTS, PROFESSORA de CULTURA E PERFORMANCE, UNIVERSITY OF CALIFORNIA, LOS ANGELES

O REINO LUBA
O Reino Luba da República Democrática do Kongo foi uma presença muito poderosa e influente do século XVI ao início do século XX na Áfrika Central. A sua arte destaca o papel que os objetos desempenharam na concessão aos detentores da autoridade da realeza e do poder real.
O povo Luba é um dos povos Bantu da Áfrika Central e o maior grupo étnico da República Democrática do Kongo. O Reino dos Luba surgiu na Depressão de Upemba (uma grande área pantanosa que compreende cerca de cinquenta lagos) no que hoje é o sul da República Democrática do Kongo. Os Luba tinham acesso a uma riqueza de recursos naturais, incluindo ouro, marfim e cobre, mas também produziam e comercializavam uma variedade de bens, como cerâmica e esculturas em madeira.

fontes:

https://www.khanacademy.org/humanities/ap-art-history/africa-apah/central-africa-apah/a/lukasa-memory-board-luba-peoples

http://www.allaroundthisworld.com/learn/africa-2/the-congo-for-kids/congo-and-congo-lukasa-memory-board/

tramas criativas sobre corpos e ancestralidades, por inaicyra falcão

PALESTRA da Profa. INAICYRA FALCÃO: Tramas Criativas sobre Corpos e Ancestralidades

“O bàtá é dança dramática religiosa, pertencente a um dos numerosos e mais antigos grupos étnicos do sudoeste da Nigéria, no continente Africano. Os Yorubás possuem movimentos vigorosos, espasmódicos, percussivos, vibratórios produzindo sensações de tensão e suspense, representa no seu aspecto mítico o relâmpago, o trovão, natureza simbólica do orixá Xangô.

Na cidade de Oyó, Nigéria; é onde se encntra seu grande templo, mas ele é cultuado em todo o estado Yorubá, no Brasil, Cuba e em outros países das Américas.

Tambor batá. Cortesia de Inaicyra Falcão dos Santos, Reprodução: Léo Monteiro / Fundação Bienal de São Paulo

A dança bàtá, é a representação corporal do ritmo produzido pela orquestra composta dos tambores bàtá que a nomeia.

Inaicyra Falcão

Folabo Ajayí comenta sobre o bàtá na Nigéria.

“Bàtá é rápido, dança energética raramente interpretada por mulheres. É caracterizada por movimentos bem marcados, definidos, rápidos, torções e de intrincados passos… A forma dessa dança está relacionada à dança de possessão que acontece durante o ritual de Xangô e do ritual Egungun. É essencialmente uma forma de dança do norte da região Yorubá. As revisões do alarinjó, grupo teatral, geralmente dançam o bàtá como forma de representação através de temas satíricos.” (AJAYI, 1989, p.2)

A dança é revelada precisamente através da expressão do ritmo produzido pelos tambores bàtá, no contexto nigeriano, e pelos atabaques no contexto brasileiro.

Segundo Passo: Incubação

“O subconsciente é o depósito de tudo que você aprendeu e experimentou na vida… O relaxamento é a chave do funcionamento do subconsciente.”(PETERSON, 1991, p.22)

Nesta perspectiva, a idéia principal surgiu no transformar o conto mítico em poema. O poder da palavra na constituição do sistema nagô mostra que:

“A palavra proferida tem um poder de ação. A transmissão simbólica, a mensagem, se realiza conjuntamente com gestos, com movimentos corporais, a palavra é vivida, pronunciada, está carregada com modulações, com emoção, com a história pessoal, o poder e a experiência de quem profere.” (SANTOS, 1976, p.12)

Estas palavras na cultura Yorubá, e por extensão, na afro-brasileira estão nos mitos, nos contos, nos “Orikís” (poemas originados do sistema divinatório oracular do Ifá, que por sua vez se combinam em sub-conjuntos dos Odu). Nos festivais dos orixás; os mitos são revividos através da experiência religiosa. O orixá homenageado, é evocado, e com sua presença ele vive no presente o tempo primordial, na época em que o evento teve lugar pela primeira vez. Mircea Eliade argumenta que se pode falar: “… no tempo do mito, e o tempo prodigioso “sagrado”, em que algo novo, de forte e de significativo se manifestou plenamente, e reviver esse tempo, reintegrá-lo … é reaprender sua lição criadora.” (ELÍADE, 1972, p.22)

Terceiro Passo: Iluminação

Surgiu assim a personagem Ayán, princípio de vida do tambor bàtá, que trouxe de forma intrínseca os elementos corporais, rítmicos, vocais e visuais.”

Fonte: Fragmento do texto “Ayán, Uma Poética Intertextual”, de autoria de Inaicyra Falcão

Ayán
Princípio vibrante
Divaga
Iyó-orun, ewó-orun.
Nascente, poente
Vida e morte,
Meditação intermitente
Crente
Odu traçado
Destino amarrado
Entranhas emaranhadas
Degusta afazeres, lazeres
Verte amores, desamores
Atenta
Orixirixi
Expelindo desejos latentes
Emerge a dinâmica
Exú
Interage, intercede
Ayán
Expande pele espessa
Repercute, curtida
Nutrida batida
Ayán
Espasmódica
Impetuosa, intensa
Breve e seca
Ayán
Transcende, transfigurada
No fundamento
simbólico
Do fogo.

Inaicyra Falcão

Musiques du Mali : les messagers (2/2)

musiques du mali: les messagers

Les gri­ots ne sont pas les seuls déten­teurs de la tra­di­tion musi­cale. Dans cer­taines eth­nies, les gri­ots tien­nent une place moins impor­tante, et n’importe qui, même noble, peut chanter et jouer d’un instru­ment, pour peu qu’il en ait le goût et qu’il soit doué. Cette musique, plus dis­trac­tive sert à ani­mer les fêtes et les céré­monies de bap­tême, de cir­con­ci­sion et de mariage. Ceci est illus­tré par qua­tre séquences musi­cales dont le Was­soulou : un chanteur et un joueur de Kamelen’goni (gui­tare du jeune homme) ani­ment une fête locale. De nou­veaux chanteurs sont apparus, ni griot, ni chanteur tra­di­tion­nel, ce sont de “chan­son­niers”. Util­isant des instru­ments mod­ernes, la gui­tare le plus sou­vent, ils com­posent des chan­sons qui ne s’adressent plus unique­ment à une eth­nie. Ce sont entre autres Idrissa Soumaourou et Ali Farka Touré. Type : Documentaire Durée : 52 min Réalisateur : Bruno Maïga, Djingarey Maiga, Jean-François Schiano Date de sortie : 1988 Co-production : La Sept Les Films du Village Langues : English, français

a arte griô

Baobás, pilares do mundo

espíritos dos ancestrais – Baba Égun. O também supracitado òpákòko é consagrado como um dos locais de culto dos ancestrais.

Baobá

As grandes deusas cultuadas no Candomblé guardam uma forte relação com entidades sobrenaturais chamadas Ìyá-mi-Oxoronga. As Ìyá-mi-Oxorongá são senhoras de imenso poder – são as grandes mães ancestrais, detentoras das forças terríveis e destruidoras das mulheres.

São também denominadas ëlëyë: as senhoras dos pássaros, símbolo de seu poder.

Os mitos revelam que estas divindades chegaram ao mundo nos tempos da criação. Numa das belas narrativas coletadas por Pierre Verger com os bàbáláwo da Nigéria, demonstra-se a relação de Ìyá-mi-Òñòrîngà com as árvores, às quais chamam os velhos sacerdotes africanos das artes divinatórias de pilares da terra.

Determinadas árvores sagradas são identificadas no mito como os “Pilares da Terra”, portanto “Axis Mundi”, conforme indica em outra perspectiva Mircea Eliade:

“Instalação e a consagração do tronco sacrificial constituem um rito do Centro. Identificado à Árvore do Mundo, o tronco torna-se, por sua vez, o eixo que une as três regiões cósmicas.

Baobá – pilares da terra

A comunicação entre o Céu e a Terra torna-se possível por intermédio desse sustentáculo”(14). Estas árvores “pilares da terra” cumprem na narrativa a função de conectar estas forças do mundo sobrenatural ao mundo imanente. Com as raízes na terra, no obscuro do subsolo gerador da vida, e com a copa nos altiplanos sagrados, se possibilita o poder destas entidades extra-mundo no àiyé.

Destarte, enquanto conexão entre o espaço da existência humana e território do sagrado, habitat dos deuses, as árvores cumprem na concepção de mundo yorubá e do Candomblé um papel fundamental no processo de manutenção da vida e do equilíbrio da coletividade.

É fonte viabilizadora do intercâmbio e da comunicação em múltiplas dimensões, entre os îrun, dentre os quais a Terra – àiyé – é um deles. Esta função não se insere num caráter ecológico construído ideologicamente, mas numa perspectiva de que a árvore sagrada é um deus vivo e presente, sinalizando que o primado do sentido de ser faz da pre-sença algo pertinente também ao vegetal enquanto ente sagrado, cujas origens remontam ao ser – árvore primeira -, fundamento de toda a sua geração sacralizada no rito.

Esta mesma sacralidade está presente nos aspectos sincréticos das manifestações religiosas afro-brasileiras. A partir da interpretação de Mircea Eliade acerca do simbolismo da Cruz, é possível pensar no significado recorrente da devoção ao Senhor do Bonfim em Salvador (Bahia), associado à Oxalá. oxalá é um dos orixá-funfun (portanto divindade do branco), deus primordial, criador, chegado ao mundo imanente através da árvore – òpó Îrun oun àiyé -, pilar de sustentação dos dois planos da existência.

A Cruz também é símbolo de conexão entre os homens e o Altíssimo. Òñàlá também é ligado à morte – o criador também é chamado Bàbá Ikú, o pai da morte. O branco é a cor do luto para os yorubás. O Senhor do Bonfim está morto, crucificado; porém é a promessa da vida em outro plano da existência. Num terreiro que visitei em Salvador, ao ser conduzido ao local de culto aos mortos da comunidade, encontrei uma cruz plantada ao solo na entrada do templo. Mais uma vez o símbolo, conexão entre dois mundos distintos; contudo, em permanente comunicação.

Baobá, a árvore do mundo

“Ainda mais ousada é a assimilação pela imaginária, pela liturgia e pela teologia cristãs do simbolismo da Árvore do Mundo. Também neste caso estamos às voltas com um símbolo arcaico e universalmente difundido. (…) a imagem da Cruz como Árvore do bem e do mal, e Árvore Cósmica, tem origem nas tradições bíblicas. É, porém, pela Cruz (= o Centro) que se opera a comunicação com o céu e que, ao mesmo tempo, é ‘salvo’ o universo em sua totalidade. Ora, a noção de salvação nada mais faz do que retomar e completar as noções de renovação perpétua e de regeneração cósmica, de fecundidade universal e de sacralidade, de realidade absoluta e, finalmente, de imortalidade, todas noções coexistentes no simbolismo da Árvore do Mundo”.

Texto da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

XXIV Congresso de Comunicação – Campo Grande/MS – 2001